Ele foi o entrevistado do programa PNotícias desta segunda
O coronel Sturaro, ex-comandante de operações da Polícia Militar da Bahia, foi o entrevistado do programa PNotícias, da Piatã FM, na manhã desta segunda-feira. Como um dos nomes de maior reconhecimento em segurança pública no Estado, Sturaro comentou sobre o aumento da violência na pandemia e a atuação da PM-BA. Ele ainda falou a respeito de sua saída da corporação e revelou se ficou magoado com o desligamento.
Confira a entrevista na íntegra:
PNotícias: A violência tem crescido muito nessa pandemia e a população tem sentido falta de um trabalho mais ostensivo por parte da polícia. De fato, tem alguma coisa errada. Qual sua opinião sobre isso?
Sturaro: Na minha posição atual, jamais vou fazer nenhum tipo de crítica em relação à gestão atual. Nosso comandante-geral é capaz, tem um conhecimento muito grande de gestão, é ainda uma gestão que está iniciando. Essa situação aí nós já passamos no nosso Estado, que nós assustou, e buscamos soluções para isso. E tenho certeza, ele que é muito bem assessorado, vai conseguir trazer uma tranquilidade para a sociedade. Quem é que vai dizer ao cidadão que ele não pode fazer aquela situação nesse momento de pandemia? É a nossa polícia. Então, o nosso soldado lida com tudo isso. Lida com a crise das pessoas, lida com o estresse das pessoas, e é a chave pra resolver esse problema. E na hora que a população já está cansada, de saco cheio, aí chega a polícia pra dizer que você não pode. Você não vê ela comigo amiga. Você vê aquele policial como uma repressão, como um inimigo que não quer que você alcance seus objetivos. Aí se tem um atrito. Com a falta de emprego, o tráfico também aumentou muito. Parece que é uma fuga que as pessoas têm para aliviar o estresse é a droga. Então com isso, começou também uma rivalidade muito grande entre as quadrilhas que são responsáveis por esse tráfico de ocupação de espaços. É um comércio. Você quer ocupar um espaço maior pra ter uma lucratividade maior. Aí se iniciam os conflitos, as armas são usadas, infelizmente isso recai na sociedade e os homicídios aumentam. Como resolver essa situação? É o policial, o soldado. Ele que tem que ter a tranquilidade pra resolver isso.
PNotícias: O senhor ficou magoado com a sua saída do comando da Polícia Militar?
Sturaro: Eu nunca fui demagogo, minha história não permite isso. Muito pelo contrário, as pessoas falam que fiquei em cima do muro, isso nunca existiu. Se eu disser a você que todo coronel não pensa em ser comandante-geral, eu estaria mentindo. Você chega a coronel, claro que tem a esperança de comandar a instituição. Apesar de todos nós termos a mesma formação, cada um tem um tipo de gestão. O meu tempo de comandar a instituição passou na virada do primeiro governo. Quando o governador optou pela dobra do comandante-geral, ali era a esperança nossa de uma mudança. Então ali era minha esperança. O que nos cabe é fortalecer o comandante-geral que escolheram, para que traga uma tranquilidade e resultado para a tropa. Com a mudança do secretário Maurício, o comandante-geral optou por mudar a gestão da segurança pública. Ele mudou a polícia militar e a polícia civil. E a gente sabia que isso iria acontecer. O que cabe a nós é fortalecer a nova gestão. O que eu esperava era que nessa mudança de secretaria de Segurança Pública é que esse paradigma de trazer alguém de fora pra gerenciar a segurança pública do nosso estado fosse quebrado. Porque eu acredito que ninguém melhor que as pessoas que lidam com as situações do nosso estado conheça da segurança pública da Bahia. Tanto da Polícia Militar, quanto da Polícia Civil. Então na hora que veio alguém de fora, nós sabíamos que algumas coisas iriam mudar. Mas saímos de cabeça erguida, saímos felizes porque cumprimos uma missão e cumprimos bem. Nós fizemos uma gestão que passou por todas as crises estabelecidas no nosso Estado. Crise com caminhoneiros, estudantes, professores, greve da polícia. Saímos bem. Toda gestão é diferente, então a nossa gestão era diferente da atual. Então temos que apoiar a gestão do coronel Coutinho para que tenhamos a tranquilidade para tocar a segurança pública.
PNotícias: Volta e meia entrevistamos figuras da Polícia Militar, da Civil, da cúpula da segurança pública, e a maioria diz que não existe crime organizado na Bahia. Mas como não há crime organizado se têm bairros de Salvador que o tráfico domina? Como dizer que não há crime organizado se as manchetes dos principais jornais mostram a atuação de diversas facções? Na sua opinião, há ou não há crime organizado no estado?
Sturaro: O que acontece é que há uma situação muito forte quando os dados estão mostrando uma situação na contramão da situação. Tudo hoje, principalmente os homicídios, está voltado para o tráfico de drogas. Os conflitos existem nesses bairros, a imprensa mostra muito bem, como também mostra o trabalho da PM. Temos uma tropa treinada para isso, muitas ocupações sendo feitas nos bairros de Salvador. O crime está estabelecido. O que falamos de crime organizados é que as grandes siglas que existem em outros estados estariam no nosso. Nós temos controle dessa situação porque conseguimos identificar essas pessoas e tirar de circulação. Mas é um processo trabalhoso, porque é necessário investigar. Mas na hora que identificamos, conseguimos resolver. Como resolvemos em Valéria, no Nordeste de Amaralina, no Engenho Velho da Federação, no Subúrbio. São grupos que estão estabelecidos. Então eu digo a você que grandes organizações que existem em São Paulo, Rio de Janeiro, ainda não se estabeleceram aqui. O tráfico aqui ainda é local. Claro que os grupos se organizam pra dominar o tráfico. Hoje em dia já se tem uma vertente que a melhor maneira de se controlar o tráfico é pelo setor financeiro. É neutralizar esse setor.