Entrevistas

Psicóloga dá dicas de como lidar com transtornos de ansiedade e depressão na pandemia: "Procurar um profissional é essencial"

27 de Abril de 2021 às 12h06 - Por: Marcelo Ramos Foto: Reprodução/Instagram
[Psicóloga dá dicas de como lidar com transtornos de ansiedade e depressão na pandemia:

Anna Flávia Amaral foi a entrevistada do programa PNotícias desta terça-feira (27)

A importância dos cuidados da saúde mental em tempos de pandemia foi tema no programa PNotícias, da Piatã FM, na manhã desta terça-feira (27). Os apresentadores Jorge Araújo e Rafael Albuquerque entrevistaram Anna Flávia Amaral, psicóloga da Clínica San Miguel, em Salvador. No bate-papo, a profissional falou sobre como lidar com transtornos de ansiedade e depressão, e também deu dicas para pais entreterem filhos que estão há mais de 1 ano dentro de casa devido à crise sanitária vivida pelo país. Ela ainda comentou sobre a importância de se procurar um especialista para tratar de patologias diversas.

Confira a entrevista na íntegra:

PNotícias: Até que ponto esse tempo preso dentro de casa, em meio à pandemia, pode atrapalhar na vida de um ser humano, principalmente crianças?

Anna Flávia Amaral: Atrapalha em tudo. O desenvolvimento humano é feito baseado na recepção de estímulos diversos. O uso do celular durante um período muito programado significa a recepção de um único estímulo. No caso da criança ou adolescente, a aula já está sendo feita através de recursos tecnológicos. Já não se tem a presença do professor, o estímulo da convivência com os colegas. Aí quando acaba a aula, continua-se utilizando a tecnologia, através do celular, tablet ou computador. Deve-se buscar outros estímulos dentro da própria casa. Artesanato, uso de outros brinquedos. Criar coisas novas para que a criança tenha outras fontes de distração que não seja o aparelho eletrônico.

PNotícias: É notório que nesses tempos em que vivemos, as crises de ansiedade aumentaram. Há alguma forma de se controlar isso?

Anna Flávia Amaral: Possível, é. Não é fácil. Viemos de uma mudança completamente brusca. Nós que vivemos em Salvador, saímos de um Carnaval pra um confinamento total em menos de15 dias. É natural que as crises de ansiedade aumentem em quem já tinha ou venham a fluir em quem não tinha. Principalmente diante de uma situação que ninguém conhece, que ninguém sabe quando vai acabar. Não é impossível que elas sejam controladas. São controladas através de tratamentos, não existe outro caminho. Atividades físicas são um ótimo escape para amenizar, exercício de meditação, de respiração também. Mas pra controlar de fato, tratamento psicológico e acompanhamento psiquiátrico.

PNotícias: E quem sofre de ansiedade, quem tem insônia, há uma diferença muito grande para os sintomas da depressão?

Anna Flávia Amaral: Há sim. Estamos vindo de uma tendência muito grande a diagnosticar coisas baseada em ideias desenvolvidas pelo senso comum. O diagnóstico é feito baseado no que a ciência desenvolveu ao longo de anos de estudos. Existem critérios para que possamos diagnosticar alguém com o transtorno da ansiedade ou transtorno depressivo maior. O que acontece é que as duas patologias podem vir juntas, mas existem critérios de diagnósticos para definir quem tem uma coisa ou outra. A insônia pode ocorrer nos dois casos. Se fala em insônia, mas na realidade o que pode ocorrer é a alteração no padrão do sono. Pessoas que às vezes perdem o sono, ou dormem muito, ou dormem muito de dia. É assim que se dá essa alteração no padrão.

PNotícias: Nesses momentos, é muito importante que se procure um especialista, correto?

Anna Flávia Amaral: Com certeza. Inclusive, a medicação trata o sintoma. Costumo fazer uma analogia com meus pacientes para que entendam a importância de procurar um profissional. Existem duas questões nesse processo de automedicação: a primeira é que pra cada quadro de transtorno psicológico, existe uma medicação adequada, mesmo que o diagnóstico seja igual. Existem diversos medicamentos para o tratamento de transtorno de ansiedade, e também para o transtorno de depressão. Então se deve acionar um psiquiatra, para que se defina o melhor medicamento para aquele quadro. Tem também uma outra situação que envolve isso. Quando temos uma infecção de garganta, dores no corpo, febre, tomamos dipirona para amenizar o sintoma, não tratar a causa. Não adianta ir pro Google procurar remédio para insônia e ansiedade, e não procurar um profissional para entender o que provocou aquela situação na sua vida.

PNotícias: Existe uma barreira e um preconceito muito grande para a procura de um psicólogo, um psiquiatra. Acontece muito, não é verdade?

Anna Flávia Amaral: Isso vem muito da forma como o profissional da área de saúde mental era tratado antigamente. Ele basicamente só atuava dentro de hospitais psiquiátricos. Esse profissional era utilizado para tratar de pessoas que não eram aceitas dentro do convívio social, vistos como “malucos”. Hoje em dia não, estamos nos espaços mais variados. Hospitais, nas clínicas. Tenho pacientes que não têm patologia alguma, que apenas querem o atendimento para se desenvolver como ser humano, querem se conhecer melhor, se tornar seres humanos melhores. Os psicólogos estão dentro das escolas para atender alunos, estão dentro das empresas para auxiliar os funcionários. Precisamos quebrar esse paradigma de que psicólogo é coisa de maluco e entender que ele está ali para ser parceiro e ajudar um desenvolvimento como ser humano.

PNoticias: Você, como profissional, como absorve toda essa carga emocional e consegue trabalhar isso?

Anna Flávia Amaral: Procurando um psicólogo também. Psicólogo precisa muito de psicólogo. Procurando fontes de prazer, de atividades que me ajudem, prática de atividade física. Procurando estar perto de pessoas que me fazem bem, amigos e famílias. Minha formação profissional me deu muita base pra separar o que é problema da outra pessoa e o que é problema meu. Tenho 11 anos de atuação e sempre foi muito importante para mim a ajuda de outro profissional. Muitas vezes a dor do outro bate na gente e se torna a nossa dor. Então precisamos de um psicólogo para resolver essa dor.

PNotícias: A questão da oscilação emocional das pessoas é normal? Um dia está dando risada, outro dia está brava. Isso é normal?

Anna Flávia Amaral: Eu sou um pouco avessa ao conceito de normal e anormal. Porém, existe o limite entre a personalidade e a patologia. Existem patologias que provocam essa oscilação emocional e a pessoa precisa procurar um tratamento. E existem pessoas que têm uma personalidade e que acham que têm o direito de tratar as pessoas de acordo com a variação de humor delas. E às vezes precisamos dar um conselho, dar um puxão de orelha, ou então dar um limite nessa convivência. Mas existe por exemplo o transtorno bipolar, que é sim uma patologia que necessita de tratamento.

PNotícias: Existem pessoas que sofrem de depressão e chegam num estágio de tirar a própria vida. Quando a pessoa toma esse tipo de decisão, ela passa algum sintoma? A família pode enxergar?

Anna Flávia Amaral: É muito difícil uma decisão como essa ser tomada de forma repentina. Vivemos em uma sociedade que estamos sempre correndo, e muitas vezes deixamos de olhar para as pessoas que amamos. Antes de uma decisão dessa, em geral, existe sim uma mudança de humor. Uma perda de prazer e interesse por atividades, uma perda de interesse de estar perto de pessoas queridas. Existe também a ameaça. Muitas vezes as cartas de suicídios são pedidos de socorro e a gente costuma ignorar isso achando que quem vai se matar não anuncia, perdendo chance de ajudar alguém que está pedindo socorro. Quando a gente percebe uma mudança brusca de comportamento, devemos sim estender a mão, procurar saber o que está acontecendo. E se não for possível ajudar, procurar uma ajuda profissional para essa pessoa. Temos o CVV, Centro de Valorização da Vida, número 180, que é um órgão que dá esse acolhimento de forma gratuita para quem não tem condições financeiras. Temos o próprio SUS, instituições, emergências psiquiátricas que dão esse acolhimento. Não podemos negligenciar essa situação. O número no aumento de suicídio é absurdo.

PNotícias: Quando a pessoa deve saber se deve procurar um psicólogo, um psiquiatra ou terapeuta? Qual a diferença?

Anna Flávia Amaral: O psicólogo ele tem a formação em Psicologia e a capacitação para atuar em clínica. Hoje, nós temos alguns cursos que permitem à pessoa a trabalhar como terapeuta. Porém, elas não têm embasamento científico. O psiquiatra é o médico que tem a especialização em psiquiatria, e ele faz o atendimento para medicar determinadas patologias de ordem psicológica. A necessidade do atendimento psiquiátrico acontece quando a patologia é diagnosticada ou quando o desconforto traz a necessidade do uso de medicação. A necessidade da busca para um acompanhamento psicológico ocorre toda vez que acontece um desconforto ou que percebemos que estamos necessitando uma qualidade de vida melhor.

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