Entrevistas

Secretário da Educação apresenta alternativas para retorno das aulas presencias em Salvador: “Escola é um ambiente com um risco controlado”

15 de Abril de 2021 às 14h34 - Por: Paola Pedro e Alan Nogueira Foto: Divulgação // Secom
[Secretário da Educação apresenta alternativas para retorno das aulas presencias em Salvador: “Escola é um ambiente com um risco controlado”]

Em conversa com o PNotícias, Marcelo Oliveira também falou sobre assistência alimentar prestada aos estudantes da rede municipal

O secretário municipal da Educação, Marcelo Oliveira, afirmou que a Smed já pensa em alternativas para o retorno presencial das aulas em Salvador, como o revezamento de alunos. Em conversa com o PNotícias, o secretário defendeu que a escola “é um ambiente com um risco controlado” e, por esse motivo, alunos, professores e funcionários estariam menos expostos ao coronavírus, mas ressaltou a importância dos profissionais da categoria.

Marcelo Oliveira detalhou ainda a magnitude da política de assistência estudantil traçada pela Prefeitura de Salvador com o objetivo de amenizar os impactos da pandemia e destacou a importância da distribuição de cestas básicas para as famílias dos estudantes da rede municipal.

Confira a entrevista na íntegra:

PNotícias: a assistência familiar impacta no desenvolvimento dos alunos? De que maneira?
Marcelo Oliveira: o que a gente está fazendo, é uma reposição daquela merenda que o aluno foi privado quando nós os suspendemos as aulas. Então, foi a primeira medida de assistência à população feita pela prefeitura na época do prefeito ACM. Logo duas semanas depois, 17 dias depois, já distribuímos a primeira leva de cestas, porque os alunos tiveram a suspensão da merenda e você sabe que a fome não espera. Então a ideia foi fazer essa distribuição. 
Pela grandiosidade dos números que nós estamos falando talvez seja um dos maiores programas de distribuição de alimentos direto à população que já foi feito aqui na cidade de Salvador... E veja, essa cesta, qual é o propósito dela? É garantir que o aluno continue alimentado, e ele alimentado obviamente vai poder ter a capacidade de aprender, não dá pra aprender com fome.
Mas tem um efeito colateral extremamente favorável do ponto de vista social. A maior parte dessas famílias, desses alunos, são de famílias mais humildes pessoas que vivem de biscate, não tem um emprego formal, e com essa interrupção/redução da atividade econômica essas pessoas também tiveram perdas na sua renda. Então, essa cesta entra como um auxílio excepcional para garantir minimamente alimentação... E tem uma peculiaridade nessa cesta, que ela é uma cesta por aluno... Se uma família tiver dois ou três alunos na escola ela vai receber duas ou três cestas. A gente tem a convicção de que ela realmente está auxiliando e ajudando a mitigar, a reduzir o impacto negativo da pandemia sobre a vida dessas famílias.

PNotícias: essas cestas começaram a ser distribuídas muito rápido, desde que foi decretado a quarentena. Como vocês pensaram numa maneira tão urgente para dar esse amparo às pessoas?
Marcelo Oliveira: é verdade. Coma a pandemia foi algo muito crítico, a gente já estava imaginando que ia chegar no Brasil, porque a gente viu ela migrar da China para os Estados Unidos e para Europa... Nós tínhamos aí, mais ou menos uns 40 dias de defasagem entre o que estava acontecendo nos outros nos outros países.
No primeiro momento, o vírus chegou de uma forma atenuada, de uma forma mais lenta, e não tivemos mortes nos primeiros momentos, vimos os primeiros contaminados... E se você olhar a curva, ela sobe num patamar muito discreto, o que deu, digamos, algum tempo para a gente se preparar para enfrentar, criando as condições objetivas de assistência ao médico hospitalar, que é o grande desafio da Covid. A Covid em si tem uma letalidade muito baixa se o paciente tiver acesso ao recurso hospitalar de alta especialização como suporte ventilatório.
Tenho que reconhecer que na época eu não estava aqui na prefeitura de Salvador, eu era prefeito de uma cidade da região metropolitana, mas nós fizemos essa tanto lá em Mata de São João quanto aqui em Salvador foi de uma agilidade muito grande e, a gente contou também com a destreza e a cooperação de vários fornecedores que uniram esforços para suprir essa necessidade de imediato com um custo bastante acessível embora seja um esforço imenso, porque nosso custo aumentou, o custo da merenda aumentou. É diferente você dá o gênero de você dar a refeição pronta. A refeição é mais barata do que você dar o gênero para preparar a refeição.
E tem um detalhe, esse recurso não vem da Educação, isso é uma coisa que talvez as pessoas não tenham essa noção... Mas não se tirou dinheiro da educação porque era para fazer um investimento na melhoria na qualidade da educação para comprar cesta de alimentos. Esse recurso vem direto do Tesouro municipal, são recursos do município que poderiam estar sendo aplicados em pavimentação de ruas, esgotamento sanitário, iluminação pública, na construção de praças, mas ele está direcionado para alimentação dessa população de estudantes e suas famílias.

PNotícias: além dessa distribuição das cestas, houveram outras estratégias traçadas pela gestão municipal para amparar essas pessoas durante a pandemia?
Marcelo Oliveira: A cesta sem dúvida, em termo de amparo, foi o carro-chefe, porque ela garantiu uma alimentação que é o bem mais essencial, mas de um ponto de vista pedagógico, nós tomamos várias iniciativas de imediato. A primeira delas foi a de distribuir chips com pacote de dados por todos os alunos do ensino fundamental 2, para que eles pudessem ter acesso a internet e para que a gente conseguisse com os professores que eles criassem as salas de aulas virtuais. Criamos um portal da prefeitura e tentamos dar as aulas de forma remota desde o primeiro momento.
Não foi exatamente no primeiro momento, mas uns dois meses depois da suspensão das aulas estes chips já estavam disponibilizados. Nós também fizemos as aulas pela TV, produzimos aulas para que os alunos assistissem pela TV, porque uma parte dos alunos não tinham dispositivos de acesso a rede de computadores. São famílias muito humildes e muito carentes que não tem essa disponibilidade com as crianças de um tablet, um computador ou um celular. Fizemos também os cadernos de atividades, que foram disponibilizados para as crianças.
Então, várias iniciativas foram tomadas para que esse prejuízo fosse o menor possível em meio a essa pandemia que deixou todo mundo preocupado e a educação ficou relegada a um plano de menor importância no meio da luta pela sobrevivência das pessoas. A administração tanto, municipal, estadual e nacional, estavam mais preocupadas em criar os recursos de UTI de suporte ventilatório do que com educação. Essa é a realidade.

PNotícias: As novas políticas de assistência familiar, a exemplo da distribuição das cestas básicas, serão mantidas após a pandemia? Quais são os planos da secretaria?
Marcelo Oliveira: quando a gente voltar às aulas presenciais, volta a merenda dos alunos e aí a cesta perde o sentido, porque ela veio em substituição a merenda que as crianças tinham na escola. Quando eles voltarem a merendar na escola não vai ter mais cestas, só que os nossos protocolos de segurança enquanto houver essa pandemia, não vai ser possível voltar todas as crianças ao mesmo tempo, porque nós precisamos garantir o afastamento social.
Então numa sala onde cabiam um 30 crianças, não tem como você garantir que elas fiquem afastadas um metro e meio uma das outras, a sala de teria que ter o dobro do tamanho. Então qual seria a solução? É ir apenas metade dos alunos cada dia. Nossa proposta é que metade dos alunos vão para a escola na segunda, quarta e sexta e, a outra metade vai terça e quinta, e na semana seguinte essa situação se inverte... Quem foi terça e quinta na primeira semana, vai segunda, quarta e sexta na semana seguinte.
Com isso, os alunos só vão merendar na metade dos dias, porque eles teriam 5 dias de aula a cada 15 dias, a cada duas semanas. No regime normal teriam 10 dias de aula. Então a nossa proposta é retornar a merenda para esses alunos que estão na escola, essa metade dos alunos, e esses alunos também receberiam uma cesta com aproximadamente a metade dos itens da cesta atual que desse para eles se alimentarem nos outros dias que eles não estão na escola. Então com isso a gente vai fazer esse balanceamento de modo que ninguém vai ficar sem se alimentar mesmo não tendo aula, mas eu acho que dessa maneira fica justo com as crianças. Não deixar ninguém desassistido e manter a merenda na escola, que ela já é uma rotina nossa.

PNotícias: a secretaria já está vendo algum resultado dessas estratégias que o senhor discutiu? A Smed já consegue enxergar esses resultados?
Marcelo Oliveira: o resultado da distribuição da cesta é evidente, não tem muito como questionar, além de que temos a continuidade dessa distribuição em todos os meses o ano de 2020, quando suspendemos as aulas, até 2021. Em nenhum momento faltou alimento na mesa dos nossos alunos, eles foram plenamente assistidos e esse, obviamente, é um motivo de orgulho. Não é uma operação fácil: são 163 mil cestas distribuídas mensamente. Se for pegar o acumulado de abril de 2020 até março de 2021, 12 meses, nós já distribuímos mais de 24 mil toneladas de alimentos. Tem sido uma operação muito grande, é uma operação de guerra mesmo. Já o resultado das alternativas pedagógicas fica mais difícil de mensurar, mas fizemos um convênio com a Universidade Federal da Bahia, envolvendo uma equipe multidisciplinar com pedagogos, estatísticos, médicos, que vão medir o impacto do retorno às aulas. Nós não vamos tomar nenhuma atitude pela nossa intuição, porque a gente acha que deu certo, vamos medir e, com precisão, tomar medidas baseadas em fatos e dados.

PNotícias: como o senhor encara os pedidos de essencialidade da educação? É o momento de retomar as aulas presenciais?
Marcelo Oliveira: há uma situação que precisa ser enfrentada, que é a vacinação dos trabalhadores da Educação. Realmente imaginar que você vai conseguir trazer de volta professores, coordenadores e até as famílias estão temerosas de mandar seus filhos pra escola, porque acham que seus filhos vão trazer o vírus pra dentro de casa, onde mora a avó, o avô, a tia mais velha. É um temor natural, embora as crianças tenham uma possibilidade de contágio muito pequena, esse risco não deixa de existir. Mas a grande questão são com os adultos que operam a escola, tô falando de professores, merendeiras, agentes de limpeza, porteiros, diretores, coordenadores. É preciso que a gente faça a vacinação desse público, mas tô aqui dando que tão logo essa vacinação ocorra a gente tenha as condições objetivas do retorno. Até porque, analisando os vários estudos que foram feitos em vários países, a volta às aulas não tem fluência sobre a curva de contágio. Mas você sempre pode dizer “poxa, e essas crianças aglomeradas na escola e o professor?”. Essas crianças hoje estão em suas comunidades sem nenhum tipo de disciplina, a não ser em raras exceções. A maioria delas estão na rua, porque os pais saem pra trabalhar porque precisam sobreviver e essas crianças estão lá em contato com outras crianças, com outros adultos. Agora veja o contrário, na Itália, por exemplo: as escolas estão preparadas para garantir esse afastamento social, a higienização, o uso de máscara, tem a figura orientadora e disciplinadora do professor, então é um ambiente com um risco controlado.
Minha convicção é que as crianças e o professor voltando pra escola, eles vão estar expostos a um risco menor que aquele o qual estão expostos hoje, porque esse professor ou professora está indo ao supermercado, à farmácia, tá saindo de casa. Eu acredito firmemente que a volta às aulas não terá nenhum impacto sobre a curva de contágio e o risco que as crianças, professores e funcionários é menor do que aquele do cotidiano. Agora, pra ter tranquilidade, eu considero que esse retorno deve ser prescindido da vacinação desses trabalhadores da educação.

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