Entrevistas

Economista sugere que governo do Estado aplique sanções contra a Ford: “Mostrou descaso com a Bahia”

14 de Janeiro de 2021 às 15h40 - Por: Beatriz Araújo Foto: Reprodução/TV Globo
[Economista sugere que governo do Estado aplique sanções contra a Ford: “Mostrou descaso com a Bahia”]

Armando Avena afirmou que é necessário fazer uma investigação profunda do fechamento da empresa na Bahia

Após a Ford anunciar na última segunda-feira (11) o encerramento da produção de veículos em suas fábricas no Brasil, a possibilidade de um baque na economia da Bahia vem causando preocupação, já que uma das fábricas da montadora está localizada no município de Camaçari, no interior do estado. Para comentar sobre o assunto, o programa PNotícias, da Piatã FM, entrevistou na manhã desta quinta-feira (14) o economista baiano Armando Avena, que disse ter ficado surpreso com o anúncio do fechamento de uma indústria tão grande, chamando atenção para a necessidade do Governo do Estado investigar o caso: “É preciso analisar juridicamente quais sanções se podem aplicar com relação à Ford, porque ela mostrou descaso com a Bahia”, afirmou.

De acordo com a montadora, a decisão foi tomada à medida em que a pandemia da Covid-19 vem ampliando a persistente capacidade ociosa da indústria e a redução das vendas, que teria  resultado em anos de perdas significativas. A Ford decidiu então encerrar a produção de veículos em suas fábricas no Brasil localizadas em Camaçari (BA), Taubaté (SP), para carros da Ford, e em Horizonte (CE), para jipes da marca Troller.

Para Armando Avena, não se pode deixar simplesmente que a fábrica localizada na Região Metropolitana de Salvador (RMS) seja desmontada. “Tem que se fazer negociações com a Ford pra que ela não saia levando tudo de repente ou desmonte a fábrica porque há muitas empresas interessadas em vir produzir no Brasil”, afirmou.

“Ontem, anunciaram quatro empresas chinesas que estariam estudando a possibilidade de vir produzir no local onde a Ford está produzindo. Eu acho que isso é possível, é claro que não é de uma hora pra outra. Aqui também, é preciso se dizer, que há uma preocupação de milhares de trabalhadores, de um dia pro outro”, reiterou o economista.

Avena disse ainda ter ficado surpreso com o fechamento de uma fábrica do tamanho da Ford, de um dia pro outro e chamou a atenção para o prejuízo causado aos mais de 5 mil trabalhadores que ficaram desempregados após o anúncio do fechamento da montadora. “Eles comunicaram ao governador na segunda-feira, na terça-feira disseram que iam acabar com a fábrica. Milhares de trabalhadores de repente ficaram sem seus empregos, sem ter o processo de negociação, sem ter o processo de realocação, então eu acho que isso é algo que o governo precisa agir”, analisou.

Além disso, o entrevistado chamou a atenção para o que ele considera uma necessidade urgente: “Na minha concepção, é preciso analisar juridicamente quais sanções se podem aplicar com relação à Ford, porque ela mostrou descaso com a Bahia”, disse.

O economista chamou a atenção para algo que pode servir de lição aos governantes: “Não se pode dar incentivo de todo o jeito, sem se colocar no contrato algumas cláusulas dizendo que ela não poderia sair intempestivamente, que ela não poderia sair de uma hora pra outra. A partir de agora ficou muito claro que quando você dá incentivos, a empresa está interessada no seu lucro, então tem que haver cláusulas dizendo que leva algum tempo pra ela sair, que ela não pode sair de uma hora pra outra, pra não acontecer esse cemitério de indústrias. Esse é o primeiro ponto que realmente precisa ser visto”, alertou, se referindo ao incentivo financeiro que a Ford recebeu do Governo da Bahia quando iniciou suas atividades no estado.

Apesar da preocupação acerca do fechamento da empresa no país, que gerou a estimativa de um grande baque na economia baiana, o economista analisa que o problema não é tão grave quanto parece: “A Ford é importante, mas não é o fim do mundo ela ter fechado. A Bahia é muito maior do que a Ford. Só pra dar um exemplo, o valor da produção industrial da Bahia, mesmo sem a Ford, vai ser maior do que Ceará e Pernambuco juntos porque a Bahia não tem só produção de automóveis. A Bahia tem petróleo, a Bahia tem petroquímica, mineração, a Bahia tem a parte de energia eólica”, considerou.

“É claro que vai ser muito ruim perdermos um polo automobilístico, mas a Bahia é maior do que isso. O que é preciso é primeiro voltar a fazer planejamento, buscar as empresas que têm interesse em vir pra cá. Em Pernambuco, por exemplo, a empresa Fiat, ao invés de sair, está ampliando os investimentos na região metropolitana do Recife, então a Bahia tem que buscar empresas nesse caminho. E lembrando sempre uma coisa, que eu acho que foi outro equívoco da Ford: a pandemia não vai durar sempre. Daqui a seis meses, quando a vacina estiver disseminada, o mercado vai voltar a consumir”, completou Armando.

Segundo o entrevistado, a pandemia de fato fragilizou muitas empresas, mas o mercado brasileiro, que é o maior da América Latina, também pode exportar para outros países: “A Ford exportava 5% da pauta de exportações da Bahia. Eu não acho que seja o fim do mundo a Ford ter ido embora. É claro que vai ser muito ruim, haverá desempregados e tal. Mas o que eu acho é que o Governo do Estado e também o Governo Federal poderiam ter agido mais efetivamente”, explicou.

“O que eu não me conformo também é como uma empresa do tamanho da Ford, que fabrica 250 mil carros, resolve ir embora de um dia pro outro, sem avisar nenhuma autoridade. As autoridades também comeram mosca. As autoridades tanto estaduais, quanto federais, precisavam estar mais atentas ao que estava acontecendo. Eu acho que a situação é difícil, mas que a pandemia não vai durar a vida inteira. Eu acho que a partir do segundo semestre vai haver a possibilidade de retomar a produção, talvez não no mesmo tamanho da Ford, que hoje produz 250 mil carros por ano, então não hoje. Mas é possível que as empresas chinesas, a Coréia, que estão muito interessadas no mercado brasileiro, possam voltar a investir”, disse Avena.

Armando Avena ainda relembrou o momento em que o Governo do Estado cometeu o que ele considera um “grave equívoco” quando pensou que ia trazer a Águia Motors e a Jac Motors para a Bahia: “Na verdade essas empresas só estão interessadas em receber o incentivo e fazer daqui uma espécie de maquiadora onde ela monta um galpão e finge que está produzindo, maquia os carros importados e termina não deixando nada para o nosso estado. Isso, você não tenha dúvida. Não podemos cair de novo num conto de empresas sem capacidade e a Bahia caiu nesse conto. Tem que trazer empresas como, por exemplo, a Fiat que foi pra Pernambuco, que é uma empresa de peso”, afirmou.

O economista também chamou a atenção para o que teria sido um erro da Ford ao optar pelo fechamento das indústrias no Brasil: “A Ford cometeu um equívoco. Ela, na verdade, está diminuindo de tamanho. Ela vai pra Argentina pra produzir pick-ups, ela vai reduzir o seu tamanho na América Latina. Então, eu acho que foi um equívoco estratégico de ação executiva. Agora, eu acho também, que tanto o Governo do Estado, quanto os outros, precisam planejar melhor a indústria na Bahia porque a indústria baiana vem reduzindo sua capacidade”, considerou.

“Agora mesmo vai haver a privatização da Refinaria Landulpho Alves, que é a maior empresa da Bahia. Pra se ter uma ideia, a Refinaria Landulpho Alves é 10 vezes maior que a Ford. O governo está fazendo a licitação da refinaria, nada de mais até aí, mas é preciso que a cláusula demonstre que ela vai continuar produzindo, que ela vai continuar gerando emprego, que ela vai continuar viabilizando a indústria baiana”, explica Avena.

Para o entrevistado, quando se dá muita coisa a uma empresa, em algumas situações, ela não responde nada. “A Ford recebeu do estado da Bahia um porto completo. É a única empresa automobilística do mundo que tinha um porto à sua disposição e o porto só exportava automóveis da Ford. Além disso, tem uma instituição da Fieb, a Cimatec, que é uma empresa de alto nível sob o ponto de vista da tecnologia. Então, a Ford não percebeu que isso lhe dava uma vantagem comparativa e eu acho que isso dá uma vantagem comparativa para outras empresas. Isso é uma maravilha”, afirmou.

“Qual é a empresa que não vai querer ter um porto seu, que não vai pagar taxas para exportar seus produtos e toda uma estrutura montada?”, questionou Avena. “Nesse sentido eu acho que é preciso saber negociar, é preciso buscar empresas, não qualquer empresa, não uma empresinha tipo a Jac, que era de um empresário já conhecido de que não tinha condições de implantar uma fábrica. Tem que se buscar empresas consolidadas, empresas que tenham capacidade”, completou.

Além disso, o economista chamou a atenção para a necessidade do Governo do Estado buscar empreendedores para negociar a retomada da produção na indústria que, até então, pertencia à Ford.

“Eu acho que a Bahia não pode perder essa fábrica, ela tem que buscar investidores de porte para viabilizar e também tem que aplicar sanções para a Ford. Por exemplo, a Ford tomou emprestado do BNDES R$ 535 milhões para produzir novos veículos. Esse recurso ainda não foi pago, onde ele irá? Ele vai ficar na mão da empresa?”, questionou.

Avena afirmou ainda que é preciso uma ação jurídica para investigar onde vai ser aplicado o recurso e o motivo de a empresa ter tomado o dinheiro emprestado se já previa esse fechamento. “São todas essas coisas que formam uma estrutura que precisa ser analisadas e talvez tomar até posições jurídicas pra que a empresa faça o ressarcimento do que ela levou a mais do estado”, concluiu.

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