Dizem tantas abobrinhas e atrocidades em nome de Deus, que confundem a cabeça de qualquer crente
Na moral Deus, foi você mesmo quem fez a loucura de estabelecer procuração pra meio mundo de gente falar em Seu nome?
Seus “representantes” dizem tantas abobrinhas e atrocidades em nome de Deus, que confundem a cabeça de qualquer crente (ou não), ainda mais nestes difíceis tempos de pandemia. E não satisfeita em lhe representar, essa gente julga, condena e executa.
Do jeito que vociferam, meu Deus, você deve estar em absoluta solidão neste céu onde não entra ninguém com dez por cento a menos de bens e um tantinho a mais de tesão. Fico com pena de você, assim tão sozinho neste céu lindo, tendo que amargar o riso debochado do demônio, nos braços do qual essa gente que “faz a vida de Deus um inferno” não cansa de enviar quem ousa ter prazer, ser feliz e gozar das maravilhas criadas.
Deus, seu sobrenome virou não: Deus não quer; Deus não gosta: Deus não salva... “Deus me livre, Deus me guarde, Deus me faça a feira!”
E o Deus dos miseráveis parece andar de férias, porque fora das igrejas não há salvação, nem misericórdia, nem pão, nem perdão. Irmão abraça irmão; o resto que se veja com o cão!
Mas se você existe, Deus, não há de ser exclusividade para alguns eleitos, com suas pulseiras de ouro nas alas Vips de telas e Templos, que muitas vezes acobertam horrores que fariam corar Sodoma e Gomorra. Para ser Deus você precisa alcançar todos e todas. Falando a cada um em modo particular e próprio. Não há de caber em livros, mais ou menos santos, nem em palavras ou discursos eivados de ódio e condenação. Para ser Deus você precisa buscar modos de salvar o que a gente que lhe representa botou a perder. E se estes tem, à tira colo, um Deus homofóbico, intolerante, racista, preconceituoso, que bendiz as guerras, a exploração, a injustiça, a corrupção, a impunidade... a “banda de cá” exige que você saia da “cristaleira” e mostre a cara sem máscara; a “gentalha do mundo” também quer um Deus pra chamar de seu; um Deus que abençoe toda forma de amor, de perdão, de fraternidade, justiça e paz.
Vai encarar mais essa, meu Deus?!
* Padre Alfredo Dórea é arcebispo da Igreja Anglicana Tradicional do Brasil. Graduado em filosofia e teologia. Mestre pela Universidade Gregoriana de Roma. Atua no diálogo interreligioso, combate às violências, discriminações e preconceitos, defesa dos direitos humanos e das pessoas mais vulneráveis e empobrecidas, sobretudo as que vivem com o HIV/AIDS.