Darci afirma que não é trote e considera que a equipe faça parte do seu ciclo de amizades
Uma mulher, identificada como Darci, é apontada como responsável por ter feito cerca de 40 mil trotes para o Serviço de Atendimento Móvel de Urgencia (Samu) ao longo de três anos. A equipe, em entrevista ao jornal Correio, falou sobre a situação que tem se tornado mais frequente no período da pandemia.
A atendente Luciana Maragão contou: “É insuportável, faz a gente perder a paciência com as pessoas". “Ela utiliza o pseudônimo de ‘Yéssica’ e, às vezes, mais de um número telefônico. Nós suspeitamos que seja um problema mental dela, mas que acaba afetando a saúde mental dos nossos profissionais”, detalhou.
O médico e coordenador de Urgência e Emergência de Salvador, Ivan Paiva, contou que Darci aparenta ter cerca de 40 anos, cuida de uma idosa e vive na região de Sete de Abril. “A gente descobriu, pois ela já ligou do telefone fixo da casa da idosa onde trabalhava. A advogada que a representa é filha dessa idosa”, disse.
“Ela se comprometeu a não ligar, mas voltou a fazer, principalmente, agora, na pandemia”, contou o coordenador, que na época participou de uma reunião com Darci e a advogada dela. Paiva afirmou que pretende encaminhar um documento sobre a situação para o Ministério Público da Bahia (MP-BA), para analisar a possibilidade de bloquear o número.
Apesar dos trotes recorrentes, a equipe não pode recusar a ligação. “O problema é que a gente tem que atender, não tem jeito. Nunca sabemos o que pode ser, até porque houve uma situação real em que ela precisou mesmo ser atendida. Então, a saída é registrar. Nosso sistema não tem uma forma automática de notificação”, explica o coordenador.
A atendente Elenice Ramos contou que a mulher afirma que não é trote e considera que a equipe faça parte do seu ciclo de amizades. “Ela diz que somos os amigos dela. Não é um trote dizendo que está morrendo, algo convencional. É como se fizéssemos parte da vida dela. Ela liga pra nos dizer que vai tomar café, por exemplo. Se desligarmos, logo aparece outra chamada”.
Luciana contou uma estratégia que a equipe desenvolveu para lidar com a situação: “Quando a gente tem uma mesa livre, às vezes, a gente prende com a chamada dela. Ela passa horas no telefone e fica ouvindo nosso trabalho, quieta. Então, ela dorme e a gente escuta o ronco. Só nessa hora que a gente desliga e libera a mesa”.