Política

Delator da Odebrecht relata pressão para comprometer Lula na Lava Jato

13 de Junho de 2022 às 09h02 - Por: Redação PNotícias Foto: Reprodução // Youtube
[Delator da Odebrecht relata pressão para comprometer Lula na Lava Jato]

Alexandrino fez declaração durante entrevista para filme "Amigo Secreto"

O ex-executivo da Odebrecht Alexandrino Alencar, um dos principais delatores da Operação Lava Jato, disse durante entrevista para o filme "Amigo Secreto", da cineasta Maria Augusta Ramos, que foi pressionado por procuradores da força-tarefa para comprometer Lula (PT) em seu acordo de colaboração. Além disso, ele afirmou que, ao ouvirem de delatores o nome do tucano Aécio Neves como beneficiário de caixa dois, os interrogadores soltaram um dos investigados que citava o nome dele. "Isso é um sistema anticorrupção? Ou é uma questão direcionada?", questiona.

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É a primeira vez que um deltator da operação faz esse tipo de declaração de forma pública, em entrevista até agora, os relatos ficavam restritos a diálogos reservados entre clientes, advogados e mesmo entre magistrados de cortes superiores que recebiam relatos de suposos abusos.

A pré-estreia do filme está marcada para esta segunda (13) e entra em circuito nacional na quinta (16). De acordo com Alexandino, indicaco pela Lava Jato como elo entre o PT e a empreiteira, o ex-presidente era "o principal alvo" dos investigadores, que o pressionaram a chegar "ao limite da verdade" para envolver Lula em sua delação.

"Era uma pressão em cima da gente", diz o ex-executivo no longa-metragem. "E estava nítido que a questão era com o Lula."

Ainda segundo o delator, os interrogadores insistiam em questões sobre "o irmão do Lula, o filho do Lula, não sei o que do Lula, as palestras do Lula [a empreiteira contratou o ex-presidente mais de uma vez para falar em eventos]".

"Nós levávamos bola preta, 'ah, você não falou o suficiente'. Vai e volta, vai e volta. 'Senão [diziam os interrogadores], não aceitamos o teu acordo", segue o ex-empreiteiro em seu relato.

A narrativa de Alexandrino Alencar corresponde com reportagens publicadas na época da Lava Jato, e que informavam que o Ministério Público Federal resistia em aceitar a delação do então executivo já que ele não mencionava Lula, nem outros políticos, em suas revelações.

Após ceder, diz Alexandrino, os investigadores concordaram em assinar com ele um acordo de colaboração premiada.

Entre outras coisas, o delator detalhou em seus depoimentos os gastos da empreiteira com a obra no sítio de Lula em Atibaia entre 2010 e 2011.

O ex-presidente foi condenador em 2019 a 12 anos e 11 meses de prisão por corrupção e lavagem de dinheiro por conta das reformas realizadas pela construtora na propriedade.

O depoimento de Alexandrino foi considerado essencial na época para que o petista fosse condenado.

Após dois anos, a Justiça anulou a punição a Lula, como desdobramento da decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que considerou o ex-juiz Sérgio Moro suspeito no caso do tríplex atribuído ao petista.

No filme "Amigo Secreto", o ex-executivo disse que outros delatores foram pressionados e mentiram para os investigadores para poder assinar a colaboração e ver suas penas de prisão reduzidas.

"Se eu falasse mais, eu estaria inventando. Estaria contando uma mentira como aconteceu com alguns [delatores] que você sabe, notórios, que mentiram para tentar escapar", diz ele.

"Eu contei a verdade. Eu cheguei no limite da minha verdade."

Ele afirma também saber de casos de pessoas que foram dispensadas dos depoimentos quando mencionaram o tucano Aécio Neves em suas delações.

"Não vou dizer o nome do santo. Mas tem colega meu que foi preso em Curitiba, chegou lá, o pessoal [investigadores] começou a perguntar sobre caixa dois [recursos doados para políticos sem registro na contabilidade oficial]. Ele [colega de Alexandrino] falou: 'Isso aqui é para o Aécio Neves'. Na hora em que ele falou, eles [interrogadores] se levantaram e soltaram ele. Isso é Lava Jato? Isso é um sistema anticorrupção? Ou é uma questão direcionada?".

O ex-empreiteiro revela ainda que a sua ajuda detalhou "vários casos de caixa dois. Infinitos. Não aconteceu nada com ninguém. Aconteceu comigo. Com eles [políticos] não aconteceu nada". Alexandrino afirma que estar convencido de que foi investigado porque o propósito da Lava Jato era chegar a Lula.

"A maneira que fizeram... Como surge o Alexandrino nisso aí? Eles começam a me fiscalizar, grampeiam o meu telefone, o telefone do Lula", afirma.

O ex-empreiteiro diz que quando foi preso, em 2015, todos os outros empresários e executivos detidos na mesma unidade prisional acreditava que ele seria solto logo após, pois estava sob o regime de prisão temporária, que dura no máximo cinco dias.

Ele relata que os investigadores, então, "chamaram o Paulo Roberto Roberto [Costa, engenheiro e ex-diretor da Petrobras], chamaram o [doleiro Alberto] Youssef, [e eles] fizeram uma delação na cadeia [ambos foram presos antes dos empresários]".

Como mencionaram o executivo da Odebrecht nos depoimentos como operadores de propinas da empreiteira, a prisão de Alexandrino foi convertida de temporária em preventiva, sem precisão para que ele fosse solto, tornando sua situação mais dramática.

"Tão simples assim", diz o ex-executivo no filme.

Ele diz que a decisão de membros da Odebrecht de aderir a um acordo de colaboração foi "traumático, muito duro". Mas que foi incontornável, já que outras empreiteiras também passaram a delatar. "Não adiantava. Tem que ir junto", diz.

Em 2016, Alexandrino foi condenado por Moro a 13 anos e seis meses de detenção, pelos crimes de lavagem de dinheiro e corrupção ativa.

Com o acordo e pagamento de multas, o tempo foi diminuído para 6 anos e seis meses.

Ele já cumpriu um ano em regime fechado, dois anos e meio em semiaberto e agora cumpre o restante em regime aberto. Nesse caso, Alexandrino pode sair de casa normalmente nos dias da semana, sem tornozeleira. Porém, está proibido de sair às ruas nos finais de semana.

Os procuradores da força-tarefa nunca reconheceram a veracidade das mensagens divulgadas pela Lava Jato e sempre negaram que (tiveram) conduta parcial durante a operação. Eles sempre sustentaram que o único propósito da operação era combater a corrupção no Brasil.

O ex-juiz Sérgio Moro também diz que todos os acusados da Lava Jato foram tratados por ele com respeito, imparcialidade e sem qualquer hostilidade. Informa que suas sentenças foram fundamentadas e que o Brasil não pode retroceder no combate à corrupção.

O filme de Maria Augusta Ramos, coproduzido e distribuído pela Vitrine Filmes, narra a rotina dos jornalistas Leandro Demori, do The Intercept Brasil, e Carla Jiménez, Regiane Oliveira e Marina Rossi, do El País Brasil, na cobertura que ficou conhecido como o escândalo da Vaza Jato, em 2019.

Naquele ano, uma série de mensagens trocadas entre procuradores da Operação Lava Jato e deles com Sérgio Moro evidenciou a estreita colaboração entre o Ministério Público Federal e o ex-juiz.

O documentário mostra os enredos da operação através do trabalho dos repórteres, que terminou colaborando para a anulação de sentenças contra Lula no âmbito da Lava Jato.

A cineasta já dirigiu cinco outros documentários, alguns deles premiados internacionalmente, como "Justiça", "O Processo", sobre o impeachment de Dilma Rousseff, e "Juízo", sobre o tratamento recebido por menores infratores em prisões e nos tribunais brasileiros.

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