Pesquisadores buscam soluções para reparação de danos
Desde que a barragem da mineradora Samarco se rompeu em Mariana (MG) em novembro de 2015, equipes de pesquisadores da Universidade Federal de Viçosa (UFV) assumiram a tarefa de contribuir para apresentar soluções e caminhos possíveis para a reparação. Os resultados já apareceram com a retomada da produção em propriedades agrícolas que foram afetadas pela lama e também com a recuperação vegetal em algumas áreas.
Com o avanço das pesquisas, elas atraíram o interesse e a parceria da Fundação Renova, entidade criada conforme o Termo de Transação e Ajustamento de Conduta (TTAC) firmado entre a Samarco, suas acionistas Vale e BHP Billitons, o governo federal e os governos de Minas Gerais e do Espírito Santo. Cabe a ela administrar, com recursos das três mineradoras, todas as ações de reparação previstas. No últimos dias, a Fundação Renova vem divulgando alguns apontamentos dos pesquisadores.
"Os resultados dos experimentos que realizamos são muito promissores. Em três anos, praticamente dobrou o teor de carbono. Da mesma forma, o teor de fósforo, que é um nutriente muito importante para todas as plantas", disse o pesquisador da UFV especialista em solos, Carlos Ernesto Schaefer.
A ruptura da barragem liberou uma avalanche de 39 milhões de metros cúbicos de rejeito, que levou 19 pessoas à morte e causou poluição, afetando dezenas de municípios na Bacia do Rio Doce. A maior parte da lama se concentrou entre a estrutura e a Usina de Candonga, no município de Santa Cruz do Escalvado (MG), que funcionou com uma espécie de barreira. Foi essa a área priorizada pelos pesquisadores em um primeiro momento.
Uma equipe coordenada por Schaefer fez uma coleta de solo em mais de 60 pontos nessa área para caracterizar a natureza do rejeito. "Fizemos um análise química, física e mineralógica completa. Verificamos que o rejeito da barragem não apresentava problemas químicos maiores para as plantas, exceto o fato de ser um sedimento muito pobre. Daí a necessidade da adição de corretivos, eventualmente fertilizantes orgânicos e inorgânicos. Mas não há nenhuma razão para a vaca não estar se alimentando do pasto que está lá", diz.
Ele explica ainda que, além do uso de aditivos, uma segunda estratégia foi cobrir o rejeito com topsoil de outras localidades. Dependendo da área, foram aplicadas camadas de 40 a 50 centímetros. O topsoil é uma camada superficial de solo rica em matéria orgânica e em microorganismos, onde a maior parte da atividade biológica ocorre.
Manter o rejeito no meio ambiente em determinadas áreas, e não removê-lo, foi uma das diretrizes definidas no Plano de Manejo de Rejeitos elaborado pela Fundação Renova em 2017. Schaefer foi um dos pesquisadores consultados para a definição dessas diretrizes. “Nós temos mostrado que essa camada de rejeitos não precisa ser removida. É possível produzir sobre ela. O tratamento do rejeito é o melhor caminho para o retorno produtivo rápido dessas áreas, e isso já está acontecendo graças às intervenções que vêm sendo feitas”.
O próximo desafio, segundo o pesquisador, é avançar na pesquisa e ir além da Usina de Candonga. Serão avaliadas áreas em que não houve deposição de rejeito, mas onde a lama passou, carregada pelo Rio Doce, em direção à foz.