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INFÂNCIA AMEAÇADA

11 de Outubro de 2023 às 07h30 - Por: Redação PNotícias Foto: Divulgação
[INFÂNCIA AMEAÇADA]

Artigo do Padre Alfredo Dorea vai ao ar toda quarta-feira no Portal PNotícias

Aquela de Todos os Santos é hoje também a Baía das facções, das gangues, dos tiroteios, das balas perdidas, chacinas e assassinatos. Neste dia da criança a ocasião é propícia para refletirmos sobre a vulnerabilidade extrema à qual estão expostas nossas crianças e adolescentes periféricos, indefesos no meio desta “guerra urbana” que os cerca, envolve, atemoriza e ameaça.

 Milhares de crianças são diretamente afetadas pelos conflitos que temos vivido recentemente em Salvador. Muitas perderam seus pais, mães, parentes... Outras foram mortas, feridas e tantas tiveram que ser separadas de seus familiares, além de testemunharem cenas de violência sem precedentes.

A violência letal é uma catástrofe absurdamente trágica e de consequências infinitamente dolorosas para todes, mormente para crianças e adolescentes. Não poucas são forçadas a abandonar suas casas, deixar de frequentar a creche ou escola e espaços de lazer.  Quando for pretérita, em Salvador, esta onda de violência e assassinatos, as crianças fatalmente continuarão sofrendo as consequências das feridas psicológicas, a ausência dos meios de subsistência e a precariedade de perspectivas para suas vidas. Nossas crianças precisam ser urgentemente protegidas das sequelas físicas e emocionais que lhes estão sendo impostas, fazendo-as perder a infância, em meio a tanto sofrimento sem hora de acabar.

Indubitavelmente o primeiro e maior perigo que se impõe às nossas crianças e adolescentes é o de serem mortas. As crianças feridas, física e psicologicamente, no entanto, necessitam de cuidados específicos e imediatos, o que infelizmente, nem sempre temos à disposição na rede pública. Por sua fragilidade as crianças devem ser tratadas imediatamente, antes que padeçam de maiores danos.

A violência urbana em Salvador deixa igualmente inseguras as creches, escolas e espaços de lazer e todo o pessoal que ali atua. Isso ocasiona o afastamento ou evasão das crianças e adolescentes da escola regular, o que implica em comprometer irremediavelmente o seu futuro. A praça, lugar de brincar, tornou-se campo de guerra absolutamente proibitivos para infantes.

Urge que nossas crianças sejam adequadamente protegidas de toda sorte de violência e crueldade dos conflitos que nos tem assustados a todos e todas.

Embora não se publicize, as crianças são as mais afetadas nesta “guerra” que tem marcado a cidade do Salvador. Muitas delas ainda são muito imberbes para entender o que está acontecendo ou não têm como se defender do perigo. São vulneráveis ??e tornam-se um alvo fácil das ações criminosas e balas perdidas.

A violência urbana tem desfeito famílias, separando as crianças dos pais e mães. Deixados à própria sorte, encontram-se sozinhos, assustados, perdidos e necessitados, pois não conseguem garantir sozinhos a própria sobrevivência e autocuidado. 

A violência que se impõe sobre as pessoas adultas, infelizmente incidem, com demasiada frequência, sobre as crianças, as vítimas diretas e indefesas dos horrores cometidos contra seus familiares e cuidadores.

Impedidas de crescer em um ambiente de confiança e tendo de convier de perto com atrocidades, estas crianças e adolescentes, desde muito cedo, desenvolvem a convicção de que a violência é uma forma como qualquer outra de resolver conflitos. Desta forma a violência e insegurança atuais comprometem implacavelmente as gerações futuras.

Se a situação é de guerra, a Convenção de Genebra, para situações de conflito armado, é mais que oportuna neste momento, uma vez que estabelece o princípio da proteção especial para os infantes, segundo o qual “as crianças serão sujeitas a um respeito especial e serão protegidas contra qualquer forma de agressão indecente. As Partes em conflito prestar-lhes-ão os cuidados e a ajuda de que necessitam, seja pela sua idade ou por qualquer outro motivo.” Oxalá assim o fora!

«Mais de 25 artigos da Convenção de Genebra e dos seus protocolos adicionais específicos aplicam-se às crianças, incluindo regras sobre a pena de morte, acesso a alimentos e cuidados médicos, educação em zonas de conflito, detenção, separação das suas famílias e participação em hostilidades. Os direitos garantidos pela Convenção sobre os Direitos da Criança, praticamente ratificada em todo o mundo, também são aplicáveis ??durante os conflitos armados, o que nos parece ser – reconhecemos envergonhados - exatamente o que hoje vivemos escandalosamente em terras soteropolitanas.

* Padre Alfredo Dorea (@padre.alfredo) é um anglicano amante da vida, da solidariedade e da justiça social. Com os movimentos populares, busca superar todo preconceito e discriminação. Gosta de escrever e se comunicar.

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