Menino pedia para ser chamada no feminino e quis deixar o cabelo crescer
Por deixar que o filho de 5 anos use roupas femininas, um casal de uma cidade no estado de Santa Catarina foi denunciado por meio do dique denuncia 100. O caso foi levado para o Ministério Público de Santa Catarina e encaminhado para a área de Infância e Juventude da Promotoria de Justiça do município.
Os pais da criança afirmaram, em entrevista ao G1, terem ficado muito assustados com a denúncia. “Aquilo foi um baque muito grande para a gente. Achei um absurdo “, desabafou o homem. Ele contou também que precisou rever seus conceitos, já que desde bem pequena, a criança já mostrava comportamentos femininos e sempre se interessou por vestidos e bonecas.
“Eu já tive comportamentos homofóbicos e até fazia piadinhas. Mas revi tudo isso. Hoje vejo que não há motivos para essas ofensas. Aprendi que algumas piadas ou comentários podem ser muito desrespeitosos.”
De acordo com a publicação, os responsáveis procuraram um psicólogo que revelou se tratar de uma criança transgênero. O menino pedia para ser chamada no feminino e quis deixar o cabelo crescer. Aos dois anos, a criança pediu uma cozinha de brinquedo, e ficou fascinou.
O psiquiatra Alexandre Saadeh, coordenador do ambulatório de identidade de gênero e orientação sexual do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da USP (USP), ressalta que os brinquedos que uma criança prefere não representam que ela é transgênero. "O que faz com que uma criança seja considerada trans é o fato de ela ser incongruente com o seu sexo de nascimento", explica o especialista.
“Ele dizia que não queria ter barba, nem ser um homem. Ele começou a pedir para usar roupas femininas ou adereços femininos com frequência”, conta o pai da criança.
A criança também participou da entrevista e tratou tudo com muita naturalidade. “É porque eu sou diferente. Nasci menino, mas sou menina”, diz, sem grandes dificuldades na explicação, como se estivesse acostumado a abordar o assunto com outras pessoas. “Mas isso não é um problema.”
A promotoria concluiu que os pais do garoto são "firmes e coerentes ao descreverem que a criança é quem demonstra preferências por adereços e roupas femininas, não havendo qualquer imposição pelos genitores ou por terceiros".
"Não se verifica nenhuma situação de risco envolvendo a criança. Muito pelo contrário, os genitores demonstraram maturidade e discernimento para bem enfrentar essa situação juntamente com o filho, estando ele bem amparado. Portanto, não existem indícios de lesão ou ameaça de lesão aos direitos da criança", assinalou a promotora. O procedimento foi arquivado.
A reportagem preservou identidade e cidade onde o fato aconteceu.