Mal terminado o carnaval na Sapucaí, eis que novos enredos desfilam pela velha avenida Brasil.
Comissões de frente, com dinheiro escorrendo pelos fundos, abrem alas para “palhaços, marcianos, canibais, lírios pirados”, sempre sob a batuta de “faraós embalsamados”.
Na ala das baianas, tudo menos harmonia. Acusações recíprocas são alegorias de pierrôs antes apaixonados que hoje refutam a máscara da traição. O Fla x Flu tornou-se Fli x Fla e há rubro-negros vestidos com camisa tricolor, bradando “Bora Baêa MP”!
A bateria faz ingente esforço, mas o enredo não empolga, de tão igual em tantos partidos, nem assim tão altos. As cores da escola se perdem no arco íris das coligações vira-casaca e vira folha.
De muito velha a guarda já não anda. Passistas preferem o centrão, com direito a muito mais emendas em todos os carros alegóricos e tripés que se arrastam, sem cadência, sem escrúpulos, sem decência.
Rainhas, madrinhas, musas, damas primeiras, deslumbradas sob claques, curtidas e likes de seguidores com miliciana subvenção garantida pelo BBB (bala, boi e bíblia).
Se mestre salas abundam, não há quem queira ser porta bandeira, que de tão nossa já não é de ninguém.
Tornozeleiras marcam quem entrar e quem sai dos covis, Câmaras, camarotes.
Com nada que apurar, a comissão endossa fantasias com mais de 50 tons de cinzas, caqui, branco, azul e verde oliva.
Lá e cá, o mesmo faz de contas, num reino de ilusões sob um momo enfaixado, ora palhaço ora assassino.
“Num mar de dendê, Caboclo, andarilho, mensageiro. Meu povo firma ponto no terreiro”
*Padre Alfredo Dorea é um anglicano amante da vida, da solidariedade e da justiça social. Com os movimentos populares, busca superar todo preconceito e discriminação. Gosta de escrever e se comunicar.