A Páscoa é uma festa com um significado profundo e simbolismo complexo.
Do ponto de vista da etimologia o termo Páscoa deriva da palavra aramaica 'pasah' que significa 'passar por cima'. Para os judeus, este feriado comemora o fim da escravidão no Egito, a libertação do povo judeu pela vontade de Deus, a passagem pelo Mar Vermelho e o êxodo para a Terra Prometida.
Para os cristãos é a festa da passagem da morte para a vida de Jesus Cristo. Páscoa significa "paixão". Este significado é baseado na ideia de que o termo Páscoa vem do verbo grego (paschein) que significa "sofrer". No centro do significado literal da palavra estaria, portanto, a Paixão de Cristo e a sua Ressurreição. A Páscoa é assim a festa em que se renova a fé.
Desde os tempos antigos, o ovo é considerado um símbolo da vida. Os antigos egípcios consagraram o ovo à deusa Ísis. Os persas costumavam trocar ovos coloridos como um bom desejo durante algumas cerimônias religiosas.
O cristianismo ressignificou algumas dessas tradições, adaptando-as à perspectiva do Cristo ressuscitado: o ovo, de fato, assemelha-se a uma pedra e parece inerte, como o túmulo em que Jesus foi sepultado; no entanto, contém nova vida e, portanto, simboliza a ressurreição de Cristo.
Uma outra possível razão pela qual o ovo foi escolhido como símbolo pascoal, deve-se aos costumes da Quaresma. Neste período que antecede a Páscoa, os fiéis são convidados a não comer carne e antigamente era proibido comer ovos também. As galinhas, no entanto, obviamente continuaram a colocá-las, de modo que no final da Quaresma, ou seja, na Páscoa, as pessoas se viam com muitos ovos. Daí a tradição de cozinhá-los para endurecê-los e depois decorá-los. A tradição de decorar ovos remonta aos primeiros cristãos que pintavam os ovos de vermelho, para lembrar o sangue de Cristo, e os decoravam com cruzes ou outros símbolos (uma tradição que continua hoje em países ortodoxos e cristãos-orientais).
Na Idade Média, por ocasião da Páscoa, espalhou-se o costume de doar ovos reais, decorados com desenhos ou dedicatórias. A partir dali, no século XIX, o ourives Carl Fabergé teve a ideia de fazer ovos ricamente decorados, para os czares russos, Alexandre III e Nicolau II: essas joias continham sempre uma surpresa, e a fama de Fabergé ajudou a difundir a tradição do presente dentro do ovo.
Foi apenas no século XX que se estabeleceu a moda do “ovo de Páscoa” de chocolate, o que pode ter origem nos protótipos feitos no século XVIII pelos mâitres chocolatiers de Turim.
A tradição de presentear ovos de chocolate na Páscoa é assim bastante recente (cerca de um século); no passado, de fato, ofertavam-se ovos de galinha de verdade, ou como na Idade Média, ovos finamente decorados começaram a ser dados como presentes, muitos deles confeccionados com materiais valiosos como prata, ouro e platina.
Aos doadores e doadoras da creche da Instituição Beneficente Conceição Macedo - IBCM costumo sugerir hoje, se não para substituírem ao menos juntarem ao de chocolate, uma placa de ovos de galinha, tão saudáveis quanto necessários para presentear as crianças empobrecidas ali atendidas.
Mas a Páscoa não se reduz ao ritual de troca de ovos de chocolate, ou de galinha. Páscoa, é tempo oportuno para gestos de amor e perdão. O significado mais profundo desta festa é o amor. Um amor tão imenso, tão puro, tão absoluto que se torna um dom incondicional e desinteressado, ainda ressoando, depois de 2.000 anos, em um mundo que talvez, com a pandemia, redescobriu a espiritualidade, nos lares afligidos pelo Covid-19, no coração de cada pessoa humana.
Páscoa é cruz e ressurreição. É mistério no qual não é fácil entrar se nos aproximarmos apenas com a razão, mas que nos é evidente se nos aproximarmos da vida. Porque a vida procura sentido, procura-o na alegria e procura-o na dor; diante da morte a ressurreição abre-nos à esperança: A morte e a vida se enfrentaram em um duelo prodigioso: o Senhor da vida, que estava morto, agora vivo, reina.
Nestes tempos em que uma epidemia, tão semelhante com um flagelo bíblico, investiu e lançou a humanidade no desespero, este mistério "nos serve": a cruz e a ressurreição de Jesus, a sua Páscoa, são a síntese da fé, o próprio sentido da missão da palavra de Deus feito homem. Uma fé que ama a terra, que ajuda a pessoa a ser ela mesma, em plenitude, que se encarrega das pessoas, sobretudo as mais vulneráveis. Estamos todos no mesmo barco, necessitados de conforto porque a tempestade desmascara a nossa vulnerabilidade, mas redescobre a beleza de sermos irmãos e irmãs.
A Páscoa pode ajudar a nossa humanidade ferida. A Páscoa nos ajuda a caminhar no nosso tempo, com os pés bem firmes na terra e o olhar voltado para o Ressuscitado, o Senhor da Vida, Aquele que vence toda dor, vence o sofrimento e vence a morte.
Feliz Páscoa!
*Padre Alfredo Dorea é um anglicano amante da vida, da solidariedade e da justiça social. Com os movimentos populares, busca superar todo preconceito e discriminação. Gosta de escrever e se comunicar.